DiQuinta do PETHL: Cinco livros que auxiliam no entendimento do contexto histórico colonial e dos elos que unem América Latina e África, através de dores, objetivos e sonhos semelhantes.
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Diquinta elaborada pelo PETiano Rodrigo Peixoto.
1. Veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano.
Em “Veias Abertas da América Latina”, lançado originalmente em 1971, o jornalista, escritor e poeta uruguaio Eduardo Galeano, se debruça na história da América Latina a partir da chegada dos europeus na região, construindo um mundo dito moderno com base na exploração e escravização da mão de obra indígena e, posteriormente, da mão de obra negra, brutalmente sequestrada do continente africano. Este livro, que se tornou um clássico, é de fundamental importância no entendimento da formação política e social da região latino-americana, que enfrenta incontáveis problemas estruturais desde o processo de colonização até os dias atuais. Apesar de escrito durante a década de 1970, esta obra ainda impressiona por sua atualidade e sua capacidade de denúncia às mazelas estruturais que nos assolam.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 12. Edição. São Paulo: L&PM, 1999.
2. O perigo de uma história única, de Chimamanda Adichie.
Numa palestra realizada no programa TED com o tema “O perigo de uma história única”, que se tornou livro após alguns anos, a intelectual nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie chama a atenção, primordialmente, para o problema da chamada “História Oficial”, que parte da universalização de conceitos, ideias e modelos sociais originados em centros de poder e no consequente desprezo à diversidade histórica e social dos lugares marginalizados. Neste livro, Chimamanda expõe, através de experiências pessoais, que vivenciou durante toda a sua trajetória enquanto mulher negra, intelectual africana e residente nos Estados Unidos, o perigo da fabricação de uma história única, que produz estereótipos sobre povos marginalizados desde o processo colonial, que teve como uma das principais justificativas o processo de civilização desses mesmos povos ditos “atrasados”. Em suma, a autora mostra como a história única sufoca as diferenças e tenta “vender” um mundo ideal, uniforme, baseado em culturas dominantes e estilos de vida considerados desenvolvidos, enquanto descarta e deslegitima a pluralidade humana, suas múltiplas histórias e contextos diversos.
ADICHIE, Chimamanda. O perigo da história única. 2009. Disponível In, 2018.
3. África na sala de aula: Visita à história contemporânea, de Leila Hernandez.
A cientista política Leila Hernandez faz aqui uma ampla análise, já trabalhada também por algumas e alguns intelectuais africanas (os), acerca de uma África inventada por meio de visões ocidentais, que buscam universalizar a cultura baseadas nas estruturas dos centros de poder, que se formaram e enriqueceram com base na expropriação e exploração dos ditos povos do sul. Nesse sentido, a autora expõe diversas problemáticas presentes no contexto africano e mostra que, ainda em tempos atuais, a carga colonial possui um enorme peso sobre os ombros de povos historicamente explorados, desde às questões materiais e objetivas, até a subjetividade histórica e cultural dos povos plurais que habitam o continente, vistos muitas vezes, através de preconceitos enraizados, como uniformes, como se África fosse um país e não um continente com 54 nações, que em sua grande maioria, lutaram a ferro, fogo e sangue pela libertação do jugo colonial.
HERNANDEZ, Leila Leite; HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. Selo Negro, 2005.
4. O Quilombismo, de Abdias do Nascimento.
Em “O Quilombismo”, o escritor, professor, político e poeta Abdias do Nascimento propõe uma nova forma de sistema baseado nas relações comunitárias construídas nos quilombos, vistos como espaços de liberdade de corpos negros escravizados, que eram sequestrados, através de extrema violência, do continente africano para as Américas, com a função de servir de mão de obra para donos de engenhos e outras instituições. Como espaços de constante luta e resistência, os quilombos sempre foram lugares de construção e desenvolvimento de relações humanas afro-diaspóricas, de forma horizontal, onde os ocupantes, em sua maioria negros, devido ao contexto racista de escravização, se organizam e se estruturam política e culturalmente. Sendo assim, a proposta de Abdias sustentada no termo quilombismo seria uma alternativa política e estruturante ao sistema político brasileiro que, ainda hoje, se mostra essencialmente racista, em suas estruturas sociais e instituições.
NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo. Editora Perspectiva SA, 2020.
5. Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes, de José Eustáquio e Moacir Gadotti.
E para fechar a lista, nada melhor do que uma obra que auxilie diretamente na compreensão das relações históricas existentes e os desafios comuns que as regiões da América Latina e do continente africano enfrentam do que ler um dossiê, organizado por José Eustáquio e Moacir Gadotti, de união dos pensamentos libertadores de dois grandes intelectuais e revolucionários – o professor e patrono da educação brasileira Paulo Freire e o revolucionário guineense Amílcar Cabral – que falam a partir de suas experiências sobre a descolonização, ideia vasta e necessária que se refere à práticas de valorização cultural local, bem como à própria práxis na busca constante e incessante por justiça social, como remete amplamente Paulo Freire em suas obras e, Amílcar, em sua luta por libertação nacional, na década de 1970.
GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José Eustáquio. Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes. Produção de terceiros sobre Paulo Freire; Série Livros, 2012.