DiQuinta do PETHL: Rotacismo
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Olá! A dica de hoje do PETHL foi escrita pelo petiano Luis Brion, que nos apresenta o que é rotacismo. Você sabe o que é? Confira!
Rotacismo é a tendência natural que a língua portuguesa tem em transformar “L” em “R” mediante um encontro consonantal.
Exemplo: A Cráudia não consegue levantar um broco. Em vez de A Cláudia não consegue levantar um bloco.
É muito comum ouvir, ou nas letras de músicas, ou na fala das pessoas, as palavras como pranta, inglês, broco, Cráudia etc. Em face a isso, aparecem julgamentos do tipo “falar de pessoas que não sabem português”, “falares de pessoas mentalmente atrasadas” e “ignorantes”, para essas pessoas que julgam os falares, os livros escolares, dicionários e gramáticas ensinam que a forma correta, mais “bonita” de falar seria planta, inglês, bloco e Cláudia (BAGNO, 2012)
Na verdade, essa forma de falar não se trata de “pessoas mentalmente atrasadas”, que “não sabem português” ou “ignorantes”. Mas sim, de um falar diferente, que é um aspecto inerente a todas as línguas naturais, isto é, variação, uma variação social no âmbito fonológico. Trata-se de um falar de camada social sem acesso à educação formal. No entanto, é um falar coerente e que segue as inclinações normais e naturais que são inerentes ao português.
Historicamente, a norma padrão da língua portugues, que se fala hoje, provém do latim vulgar, com os mesmos traços de rotacismo, exemplos de palavras como:
Sclavu e ecclesia ( do latim) que passaram para português como escravo e igreja. Ou seja, onde havia “L” em latim surge um “R” em português.
Pode-se constatar que nas palavras pranta, inglês, broco, Cráudia as tendências do rotacismo ainda é viva e atuante nos falares de pessoas com menor grau de letramento. O famigerado falar caipira, não tem problema nenhum, pois é coerente, não fuja às tendências naturais do português e tem uma lógica histórica (BAGNO, 2012).
Portanto, segundo Coelho et al (2015), o dito erro na língua falada, não consiste na violação dum sistema de regras linguística, mas se trata de uma vigente variedade linguística desprestigiada que se disputa com outras variantes com mais prestígio na sociedade. O que subentende uma questão social, isto é, uma variedade é desprestigiada porque os seus falantes são de classe social, econômica e cultural desprestigiada, enquanto que outra variedade é prestigiada porque os seus falantes são pertencentes duma classe social, econômica e cultural prestigiada. Daí vê-se a valorização, não variação, e isso acarreta preconceito linguístico.
REFERÊNCIAS:
COELHO, Izete Lehmkuhl. et al. Para conhecer sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2015.
BAGNO, Marcos. A lígua de Eulália: novela sociolinguística. 17 ed. São Paulo: Contexto, 2012