REIVINDICAR SIM , MAS COMO? REFLEXÃO
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A SALA DE AULA, OS QUERERES, O APITAÇO, AS TRINCHEIRAS…
Léia Menezes
Tutoria do PET de Humanidades e Letras da UNILAB / 25 de abril de 2014
O que é o espaço de sala de aula de uma Universidade? O espaço em que um sábio/sábia (docente) despeja informações do ápice de seu saber inconteste a um grupo de aprendizes tábulas rasas? É claro que não! É um espaço privilegiado de interlocuções, é um espaço polifônico, um microcosmo do que é a própria universidade: espaço da multiplicidade por definição.
Bem, a maioria se mostra fascinada com a ideia de conviver com o múltiplo, com o diferente, muitos verbalizam que são abertos ao diferente de si mesmos… mas, na prática, – há quase sempre abissal distância entre o que afirmamos e nossas ações – demonstram o mais absoluto despreparo para, de fato, viver / conviver com os Outros.
Voltemos ao espaço da sala de aula e juntemos os dois parágrafos, fazendo a ponte com um terceiro: se o espaço da sala de aula da universidade é propício às interlocuções, por que não enxergá-lo como lugar de debates, de reivindicações? Não seria lógico?
Nesta semana, na UNILAB, um grupo de discentes evidenciou que a sala de aula não é fórum legítimo de reivindicações! Aulas foram impedidas de ocorrer, alunos e professores que queriam estar em sala de aula foram impedidos – notem “querer”: no espaço da multiplicidade, o querer do Outro muitas vezes é diferente do meu querer! Isso é multiplicidade – daí o que faço? Forço o Outro à minha leitura de mundo, anulo o seu “querer” na base do apitaço?! Isso é conviver com o múltiplo?
Por que esses discentes não se valeram das armas legítimas: as estratégias de persuasão via palavras? Por que não solicitaram permissão para adentrar as salas de aula e divulgaram a pauta (como eu pedi para ler a pauta, entender as reivindicações!) de reivindicação? Por que não mobilizaram colegas – docentes e discentes – para uma reunião, para uma agenda, para o protesto? Não, o querer de um grande grupo de docentes e discente foi ignorado, desrespeitado…. mas falam que querem seus “direitos” respeitados, sem respeitar o dos outros?!
Para findar, vejam, eu falei em “mobilizar colegas – docentes e discentes”. Alguns alunos, nesta última semana, passaram a ver, a nós, docentes, como inimigos! Professores foram alvos de risos, de chacota! E o pior: aquele grupo de professores que está todos os dias construindo a UNILAB, ouvindo os alunos, ajudando-os no que nem é mais pertencente à esfera estritamente acadêmica – agora foram postos do outro lado da trincheira: em olhares, em sorrisos debochados, em piadas sussurradas!
É fácil esbravejar “a administração não cuidou desse assunto” (será?). Ficou bem marcado para mim o discurso exaltado em jornal local de uma aluna que declarou que o campus dos Palmares estava abandonado, que faltou água por três dias, e a administração nada fez (nada fez?). Essa aluna esqueceu completamente do lugar onde a UNILAB está situada? No interior do Nordeste do Brasil! Será que nunca ouviu falar dos problemas de abastecimento de água nessa região do Brasil? Ou alguém imagina que a UNILAB tem água canalizada exclusivamente para a Instituição!? É claro que não podemos aceitar a escassez de água, mas devemos gritar contra a escassez de água no interior do Estado! Se houvesse água nos Palmares, mas escassez desse recurso fundamental à manutenção da vida no entorno da UNILAB estaria tudo certo, então? Quando gritamos, temos de gritar no tom certo, em direção às fontes dos problemas, não em direção a quem sofre o problema!
Entendo que a UNILAB é um projeto sério, pois excetuando uma minoria – o que é parte da multiplicidade – que parece sentir prazer em gol contra, a maioria está do mesmo lado da trincheira – o inimigo não é o outro docente, não é o outro colega, não são os docentes que estão na administração! As armas não são apitaços, deboches ou intimidação! Somos um grupo – docentes, discentes, técnicos, terceirizados – apostando em uma educação de qualidade: com afeto, respeito, com lutas diárias para garantir nossa qualidade de vida e a de nossos alunos.
Concluo lembrando a essência do PET de Humanidades e Letras da UNILAB, constante em seu título, RESPEITO À DIVERSIDADE CULTURAL: O PAPEL DA LÓGICA E DA RETÓRICA NA CONSTITUIÇÃO DO EU CIDADÃO. É por isso que lutamos: pelo Respeito às diversidades, entre elas, a do pensar, pelo respeito ao trabalho sério de quem quer educar, pelo manejo da palavra para efeito das conquistas cidadãs, pela reflexão quanto aos discursos que nos perpassam e nos constroem.